O autor revelação

Ele se assina Pedro J. Nunes - o J. de José. Nasceu em São José do Calçado, é autor (consagrado) de Aninhanha, mas seu livro escolhido para o vestibular, já no ano passado, é Vilarejo e outras histórias. O que Pedro considera “bom para os vestibulandos”, já que em sua opinião “Aninhanha causaria sérios problemas a eles. É um livro pouco aceito, foi aceito pelo pessoal que faz Letras. A linguagem é muito elaborada, e caiu nas graças de quem está fazendo pós-graduação, tanto que virou tese, carregou Vilarejo junto, mas é um livro difícil sim”. Já em Vilarejo, escrito em 91, lançado em 92 e que três anos depois passou a fazer parte da lista, a linguagem é menos elaborada, representa a literatura do autor: “Ele é o equilíbrio. O Aninhanha é muito pra lá, muito além do que eu me propunha fazer. E não quero nem além nem aquém. Quero ficar na linha dele”.

Pedro acha ótimo que haja dois livros de autores capixabas na lista do vestibular: “Melhor ainda se houvesse mais, claro”. Mas contenta-se. Afinal até bem pouco tempo não havia nenhum. Não considera a leitura de seu texto difícil, pelo contrário: “A primeira edição de Vilarejo foi lida por gente da 8ª série, é perfeitamente entendida”. Até na 7ª série foi adotado, e ainda está sendo, lembra. “É claro que o livro não está na média dos livros destinados a esse público, eu tenho uma preocupação muito grande com a linguagem, e tenho que concordar em que se lê cada vez menos”. Conta que no dia anterior fora autografar seu livro numa escola, para alunos de 8ª série. “E tive que fazer uma promessa de voltar lá dentro de um mês”.

Pedro Nunes faz palestras nos cursinhos e colégios de Vitória, e costuma dizer aos alunos do pré-vestibular que o professor de literatura está mais qualificado que ele para lhes falar do seu livro. - Não considera isso uma temeridade?- Não, não... (Risos). Mas reconhece que no trabalho feito com o 1º grau, “em que não há aquela preocupação quase que matemática de acertar o X da questão, a gente fica muito mais à vontade. Mesmo porque ninguém tem obrigação de dominar o conhecimento teórico do que escreve, a interpretação faz parte do processo de trabalho do leitor, depende dele”.

O contato com o autor é importante, diz ele. Mas considera muito mais “gratificante” a adoção do seu livro no 1º grau ou em outras séries, “que não sejam do pré-vestibular”, onde o livro está sendo lido “sem ser para propiciar que o aluno marque um X na prova”, do que nos cursinhos, onde se frustra o objetivo principal da adoção do livro no vestibular, “que é fazer o aluno ler, e avaliar seu nível de leitura”. Ele lamenta: “Nos cursinhos o aluno recebe mastigadinho o resumo. Esse resumo é a coisa mais calhorda que já vi, não porque é um crime ou porque é vendido, mas porque desvirtua o principal objetivo da adoção do livro no vestibular, de uma forma criminosa. Eles cobram uma fábula para aprovar o aluno no vestibular. Então para o que os resumos se destinam eles vão conseguir. Mas não resta dúvida que desvirtuam o objetivo de fazer o aluno ler”. Reconhecer esse fato não impede Pedro Nunes de se sentir “extremamente gratificado” por seu livro ter sido adotado no vestibular. “Sou um novato e eles reconheceram o valor do meu livro. Isso é muito gratificante, claro”.

Tendo parado em Vilarejo, ele revela que já escreveu outro livro, intituladoMenino: “Só que não vou publicar não”. Trata-se de um livro autobiográfico, “que precisa amadurecer um pouco mais”. Na verdade é um livro sobre a infância - “a infância é que é a personagem principal”. Pedro explica porque oMenino não deve ser publicado agora. “Tem que amadurecer mais, no sentido de que eu esteja preparado para isso e resolva publicá-lo”. Mesmo assim ele o considera seu “melhor livro, tem uma suavidade na linguagem que os outros não têm”.

Sem querer parecer pretensioso - e sem ser -, Pedro diz que os dois primeiros são “parábolas, são livros alegóricos”. Menino é diferente, tem elementos autobiográficos, “é uma experiência única para mim”. Experiência que não o agradou nem um pouco: “É complicado falar sobre a infância, nunca mais escrevo sobre mim, é muito dolorido”.

Trecho de matéria de Márzia Figueira Publicado em A Gazeta em 5 de novembro de 1996.

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